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Ética e Religião

CURSO

Padre Iágaro Domingos, mps

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INTRODUÇÃO

Ao olharmos para a história da humanidade, perceberemos que o século XX foi um dos mais danosos à vida humana. Foi um período trágico de regimes totalitários (nazismo, fascismo, marxismo), de perseguições, de conflitos mundiais (que dizimaram pessoas e cidades), de perguntas e de incertezas que assolam o coração do homem até os dias de hoje.

Curso: Ética e Religião

Não obstante, outros fundamentos sociais foram abalados nesse período histórico: o critério de verdade deu lugar ao relativismo de todo conhecimento racional; a teoria darwinista encontrou abrigo na espécie humana, isto é, os poderosos explorando os mais fracos; a valorização do ter em detrimento do ser, entre outros. 

Nessa perspectiva, salientamos que de todos os princípios afetados pela reviravolta modernista, desde o século passado, os mais significativos foram os valores éticos e morais. Dizemos isso porque, a partir do grande anúncio de Nietzsche, de que “Deus está morto e fomos nós que o matamos”, tudo se tornou válido e permitido. Na sociedade atual, não se considera mais a questão do valor e do dever, nem mesmo questões relativas ao bem e ao mal. O que importa agora é a lei humana, que justifica todos os abusos e disparates. Diante disso, questionamo-nos: Como o ser humano chegou a essa situação? O que ocasionou essa mudança axiológica na sociedade?

Não há dúvida que, desde os primórdios, paulatinamente, o ser humano afastava-se de Deus, bem como de todos os princípios e valores a ele relacionados. A transição do pensamento mítico religioso para o pensamento racional, guardado o grau de desenvolvimento e a influência de cada período histórico na vida humana, é prova dessa assertiva.

Ora, partindo dessa premissa, perceberemos que a proclamação da “morte de Deus” trouxe consigo a morte do próprio homem, dos seus princípios e valores. Ante o exposto, compete a cada um de nós, homens e mulheres privilegiados pela capacitação intelectual, refletir sobre as seguintes questões:

Será que o ser humano não pensou, em algum momento, que o seu distanciamento de Deus, ou mesmo a negação da pessoa divina, lhe traria consequências?

E mais: Que tais consequências afetariam não somente o indivíduo, mas, sobretudo, a sociedade como um todo?

Quer tenha refletido sobre essa problemática ou não, o fato é que a sociedade contemporânea vive, “sim”, nos dias atuais, profundas crises de diversas ordens: social, política, econômica, cultural, de relacionamentos, entre outras. Não obstante, como dissemos anteriormente, a maior delas, sem dúvida alguma, é a crise de valores, pois afeta todos os níveis da sociedade.

Por essa razão, este curso tem como objetivo analisar os principais aspectos da crise ética e moral, proveniente das mudanças ocorridas no período moderno, bem como as suas consequências em nossa sociedade e na religião.

Parte I - O Niilismo ou a doutrina do nada

 

Nos dias atuais, o termo niilismo é utilizado, pela maioria da população e até mesmo no meio acadêmico, de maneira simplista, da seguinte forma: tudo é sem sentido! Estamos numa íntima relação com o nada! Caímos num profundo vazio! No entanto, para compreendermos o verdadeiro sentido da referida expressão se faz necessário conhecer o seu real significado, enquanto pressuposto filosófico.

Curso: Ética e Religião

Como ponto inicial deste estudo, trazemos a definição apresentada no “Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss” no verbete sobre o niilismo: “niilismo s.m.: 1. aniquilamento; 2. espírito destrutivo em relação ao mundo e a si próprio; 3. total ceticismo; 4. doutrina que renega as verdades morais e as hierarquias de valores” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 310).

 

Por sua vez, o “Dicionário Oxford de Filosofia” nos ensina que o niilismo é uma “teoria que promove o estado em que não se acredita em nada, ou de não se ter comprometimento ou objetivos [...]” (BLACKBURN, 1997, p. 267). De acordo com tais definições, podemos concluir que o termo niilismo estaria, de certa forma, ligado à negação de ideais axiológicos, sociais e políticos. Todavia, no âmbito filosófico, o termo niilismo é mais abrangente do que apenas negar valores.

 

A doutrina niilista não se limita a uma função passiva de negação, mas exerce uma função ativa. ABBAGNANO (2000, p. 712) nos mostra que o niilismo “não é um conjunto de considerações sobre o tema ‘tudo é vão’; não é somente a crença de que tudo merece morrer, mas consiste em colocar a mão na massa e destruir [...]”. Sendo assim, o niilismo adquire um caráter destruidor. Possui uma missão, qual seja: destruir valores!

Este é o aspecto fundamental para bem compreendermos o significado da doutrina do nada. No entanto, quem eternizou e atraiu para si o que entendemos por niilismo, nos dias de hoje, foi o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Ora, isso ocorreu porque a sua relação com a “doutrina do nada” é retratada tanto nos seus escritos como nos escritos de quem analisa o seu pensamento. De fato, o filósofo alemão escolheu, para designar a decadência da sua época e das posteriores, o termo niilismo.

 

A partir do pensamento de Nietzsche [1] , o niilismo obteve diferentes enfoques, tais como: primeiro, no niilismo “não há nada a fazer com a verdade”, visto que não existe a possibilidade de o homem apreender uma verdade absoluta; segundo, no niilismo “não há nada a fazer com a moral”, pois a moral existente é problemática. “Ela anuncia princípios éticos, mas a ação não é orientada por eles”; e, terceiro, no niilismo “não há nada a fazer com a religião”, porque, desde a sua origem, afastou-se do mundo natural, voltando-se ao mundo sobrenatural (WEISCHEDEL, 2000, p. 291). Diante disso, o cerne do niilismo nietzscheano se expressa na seguinte frase, contida em sua obra “A Gaia Ciência”: “O mais importante é que Deus está morto, de que a fé no Deus cristão está enfraquecida, começa já a projetar na Europa suas primeiras sombras. [...] Com efeito, nós, filósofos e ‘espíritos livres’ frente à nova de que ‘o Deus antigo está morto’ sentimo-nos iluminados por uma nova aurora [...]” (NIETZSCHE, 1981, p. 225).

 

Sendo assim, origina-se algo novo no pensamento ético, filosófico e literário. Surgem novos valores, cuja característica principal é a negação de todos os costumes, principalmente os ocidentais. O homem se depara com um grande vazio existencial, onde não há mais espaço para as antigas crenças, para as estruturas sociais rígidas, institucionalizadas, bem como para os valores metafísicos.

Ora, não havendo mais um Deus como representante dos valores supremos, o mundo está sem rumo, condenado a vagar através do nada. O lugar que, ao longo da história humana, foi ocupado por Deus está vazio; o trono de Deus agora é ocupado pelo nada.

Nota de Rodapé

[1] Oriundo de uma família de pastores luteranos, Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu no dia 15 de outubro de 1844, na cidade de Röcken, pertencente ao Reino da Prússia, hoje situada da Alemanha Unificada (WEISCHEDEL, 2000).

Parte II - O ateísmo contempoârneo

 

De acordo com o estudo realizado, podemos dizer que as doutrinas filosóficas relacionadas à morte de Deus desembocam no grande problema vivido pela sociedade hodierna: o “Ateísmo”. Todavia, essa problemática decorre de um longo processo histórico. A religião, de modo geral, tem por finalidade levar o homem a se relacionar com o Absoluto, isto é, conduzir o homem a Deus. 

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Mas, para que isso aconteça, é necessário que o homem aceite dois fatores fundamentais, quais sejam: a existência de Deus e a inclinação humana para Ele.

A partir disso, podemos dizer que, até o século XVII (d.C.), era fácil falar de Deus, pois a teologia ocupava o centro das atenções na história da humanidade. Nesse sentido, GRINGS (2007, p. 163) nos ensina: “O tema ‘Deus’ era central e buscado avidamente, quer nas pregações religiosas [...] quer nas cátedras escolares. A teologia era a rainha das ciências e o teólogo podia ser considerado o rei dos sábios”.

Porém, a partir da revolução copernicana, tudo começou a mudar. A teologia e as ciências não conseguem mais se harmonizar, principalmente no que se refere à ideia de Deus. Ambas começam a trilhar caminhos independentes, de modo que, se alguém aceitasse a teoria científica, não poderia acolher a teologia, e vice-versa.

Com o decorrer dos séculos, o abismo que separava teologia e ciência aumentou significativamente. O avanço científico, que derrubou tabus milenares, o progresso técnico, o surgimento das ideologias, o cientificismo, o pragmatismo e o niilismo são fatores que contribuíram para que, hoje, discorramos sobre o ateísmo contemporâneo.

No entanto, para evitar eventuais equívocos, iniciamos esta empreitada ateísta com a definição do referido termo. ZILLES (1997, p. 65) nos ensina: “Ateísmo (grego a, significa negação, e theós- Deus): Não há Deus; o mundo das coisas explica-se por si mesmo. Note-se que o ateísmo é próximo do monismo e do panteísmo. ‘Deus é o próprio mundo, diz o monista. Já o panteísta diz que Deus é tudo o que existe”.

Como vimos, não podemos falar de ateísmo, mesmo na esfera filosófica, sem falarmos de religião. O ateísmo é uma condição que nos remete ao campo da religião. Tanto é verdade que a própria definição do termo diz: “Ateísmo significa não há Deus”. Sendo assim, para desenvolvermos qualquer teoria acerca de Deus, reportamo-nos ao campo religioso.

Contudo, se quiséssemos enumerar todas as doutrinas ateístas existentes, iríamos longe. Para o nosso estudo, basta diferenciarmos o ateísmo chamado Teórico do ateísmo Prático. O ateísmo teórico é uma corrente de pensamento que nega a existência de Deus. Por sua vez, o ateísmo prático está relacionado a um sistema de valores, em que a figura divina é ausente, isto é, Deus não interfere nas atitudes do homem.

Nesse sentido, GRINGS (2007, p. 174) elucida a questão: “O Ateísmo teórico é aquele que se põe o problema de Deus e lhe responde negativamente; ao passo que o Ateísmo prático passa ao largo da questão teórica e procura viver como se Deus não existisse”. Esse é o cerne do ateísmo contemporâneo.

Veja! Essa doutrina não é uma simples negação de Deus, mas uma resposta à problemática existencial do homem. Os chamados ateístas contemporâneos não estão preocupados, diretamente, com o problema de Deus, mas com as questões que atingem a existência humana, como a fome, a guerra, a injustiça, etc. Em outras palavras, há uma rejeição ao divino e uma valorização do humano.

Diante disso, chegamos ao ponto central do ateísmo contemporâneo, visto que ele se tornou um humanismo. A contar daqui, o homem determina a sua existência em plenitude, não em relação a Deus, mas em relação a si e aos outros. Enfim, mediante essa nova condição, o homem é capaz de eliminar, de expulsar Deus do seu convívio, da sociedade e, porque não dizer, das instituições humanas.

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